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Quarta de Disco: Mutantes – Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974)

Os Mutantes sempre demonstraram interesse em seguir as tendências da música internacional desde o início da carreira, quando se afastaram dos sons tradicionais da MPB e Tropicalismo em favor da psicodelia. As contínuas mudanças caracterizaram a história do grupo até sua dissolução em 1978 e, como parte dessa evolução, eles adotaram o rock progressivo em seus álbuns finais.
"Tudo foi feito pelo Sol" foi lançado em 1974, quando Rita Lee já estava focada em sua carreira solo e Arnaldo Baptista também já havia deixado o grupo devido a problemas pessoais. O único integrante original da banda neste projeto foi Sérgio Dias, que em parceria com o baixista Liminha (que havia se juntado à banda alguns anos antes, mas saiu antes de gravar este álbum) foram os responsáveis pela composição da maioria das músicas.
Apesar das diferenças óbvias do som original da banda, este disco não desapontou os fãs . A banda deixou para trás qualquer referência ao Tropicalismo, para abraçar os sons mais difíceis de um estilo progressivo de grupos como Deep Purple, Gentle Giant, Yes ou mesmo Iron Butterfly. O tecladista Túlio Mourão teve participação importante em alguns dos momentos mais intensos do álbum, juntamente com a guitarra enérgica e feroz de Sérgio Dias, que era o líder da banda na época. Um exemplo do seu virtuosismo é a música "Pitágoras", escrita por Mourão, onde o piano e a guitarra nos levam a uma jornada progressiva e quase psicodélica, com referências musicais tão diversas, que nos faz passear entre o jazz e o flamenco. Sem dúvida alguma, essa é uma das músicas mais fortes de todo o LP.

Segundo o baterista Rui Motta:
“ O novo Mutantes rompeu com tudo isso e direcionou suas baterias para os arranjos e para a performance dos músicos. As músicas ficaram mais longas, com a valorização da parte instrumental, dos improvisos, com letras bem resolvidas, místicas, voltadas para o homem e sua relação com Deus, a sociedade e o mundo ao redor. Letras politizadas na medida certa, mas sem militância. “
Ainda de acordo com Rui, o disco foi gravado quase todo em um único take, ao vivo no estúdio.
“No estúdio fizemos a montagem dos instrumentos em formato de meia lua, com a bateria no centro e gravamos o disco inteiro praticamente sem play back, uma música após outra, como no show. E olha que não estávamos nem tão ensaiado assim para peitar uma parada dessa, mas o espírito destemido da banda garantia o sucesso dos nossos vôos. Era assim que funcionava.”

Uma entrevista interessante com o grupo que se apresentou no Psicodália em 2013:
“Tudo foi feito pelo sol” é um dos melhores registros brasileiros dos anos 70 e um dos melhores discos do gênero progressivo nacional. O som é claro, sem egotrip, sem notas desperdiçadas, embora ser "progressivo" é como qualquer coisa pode ser.
Uma mistura de instrumentais psicodélicos e espaciais prolongados com inspirações cativantes do Classic Prog e Jazz Rock, fazem do álbum uma peça indispensável na sua coleção.
Bjos e Abraços!
Por Leo Martins e Rapha Falconi